domingo, maio 29, 2011

• Selva de Pedra


Amanhecia assim como qualquer outro dia em São José dos Campos, rapidamente lembrei que deveria estar em cinco minutos no serviço, que era do outro lado da cidade. Apressei-me e desci correndo as escadas ao encontro das chaves de meu carro, finalmente consegui sair de casa, agora mais tranquilo por estar a caminho do serviço.
Nas ruas percebi que os prédios tomavam conta da paisagem e quenem ao menos uma vez os raios de Sol incidiram sobre meu veiculo, tudo estava tampado por enormes prédios, o barulho das buzinas, a gritaria, animais em pleno transito.
Cheguei ao escritório e sobre a minha mesa, papéis e mais papéis,plantas de enormes arranha-céus que estavam sendo averiguadas para que fossem construídas, mas algo em especial chamou-me atenção , um projetoque seria aprovado: “A Derrubada das Palmeiras Imperiais” que estão no Parque da Cidade, há décadas, para que no local possam construir uma usina
e isso traria muitos empregos e benefícios a região. Minha avó todos os dias trabalhava na falida tecelagem e então para que minha mãe não se perdesse, pedia para que se seguisse o caminho ao longo das Palmeiras, levando direto à escola, e ao fim do dia, minha mãe voltava pelo mesmo caminho ao longo das Verdes viçosas, e ambas voltavam pra casa com mais um dia encerrado.
Agora querem destruir um local de memórias não só minhas, mas de todos que passaram por lá e deixaram suas frases, suor, lágrimas e rastros.Todos aqueles que por ali se orientavam, todos aqueles não teriam mais para onde olhar e sentir suas lembranças arderem em brasa.
Tratei logo de amontoar todos aqueles pedidos para a derrubada da árvore e ordenei a secretária para que mandasse de volta aos remetentes de origem, não seria possível, pois não haveria empregados suficientes com capacidade para trabalhar na usina e reiterei que poderia ser investida essa verba em educação para que no futuro possamos ter jovens capacitados.
Jamais seria capaz de apagar as memórias que aquele local preservou durante tanto tempo e sempre não há de adiantar uma cidade que tem lucros excessivos, mas que ignora seu patrimônio histórico e que a qualquer dia
haverão de estudar e saberão que nossa terra tem histórias, lembranças e o verde dos esperançosos campos que aqui jaz iram.


Thiαgo Ψ