sexta-feira, junho 24, 2011

• Fogo, Ferro e Fuligem


De minha janela ali estava eu, apoiado sob o parapeito, apoiado sobe todo meu peso, apoiado no cansaço daquela tarde inepta.
Fumava cada cigarro por cerca de uma hora, tragava lentamente tirando o peso de meu interior através da fumaça que meus pulmões lançavam ao ar, canecas e mais canecas de café, meu hálito já pior do que qualquer fumante de longa vida, meus dedos amarelados pelo cigarro e pelo sangue que escorrera das feridas que fizestes, eu ali deitado agora, vendo o dia nascer, por que eu não tinha motivos para dormir, eu não tinha motivos para ver o Sol raiar, mas ali o Sol já estava nascendo, armado de meus óculos escuros eu não queria enxergar as cores do dia, a nublem cobria todo meu espírito, minha fumaça havia sufocado toda a esperança de tentar um dia beijar teus lábios, eu queria apenas teus cabelos por entre meus dedos dando o prazer de domínio, queria engolir a tua essência, fazer enlouquecer todo meu corpo, deixar que minha estrutura tremesse ao sentir teu desejo me invadindo , deixasse que eu lhe desse o prazer carnal, afinal do que adianta?
Eu apenas queria que você se fudesse, ou que me fudesse, por que eu estava afim, eu queria mesmo é tomar uns bons drinks, eu queria me afogar e deixar você com todo peso na consciência!
- Afinal o que você quer?
Se veste de tantos personagens, se caracteriza com tantas mascaras, foges de mim como o tímido reluta ao publico, achas ao acaso que sou apenas mais um que caiu nas garras do filho da puta do destino?
Pois eu digo, não! Eu apenas agora quero que você me deixe, quero apenas poder voar, eu sei que posso, o parapeito de minha janela é pouco perto da minha vontade imensa, ali estava eu, de pé sob o parapés que agora poderia chamar, não adianta minh’alma reluta em meio à fuligem do cigarro, em meio ao vapor de todo aquele álcool, em meio à cafeína possuída dentro de mim, apenas posso dizer adeus!
- O parapeito já não era o limite, agora vôo como um espírito desprendido de qualquer projeção material
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Thiαgo Ψ

quinta-feira, junho 23, 2011

• Chaminé


A tarde caiu lá fora, e os últimos raios de Sol estavam iluminando o terreiro, lá dentro daquela casinha de sapé sentando a taipa do fogão, onde a lenha queimava e a chaleira avisava que o café poderia ser passado.
Aquele matuto, enrolando seu cigarro começou a contar dos causos que ele vivera até então. Coisas absurdas como Saci, Lobisomem e a cavalaria da meia noite, tudo que ele ali ia contando, ia desfazendo cada nó das suas apertadas botas, daquele extremo cansaço do dia, ia contando, seus olhos transmitiam toda a fé que um roceiro poderia ter, ele não conhecia a gramática da língua mãe e muito menos os esplendorosos cálculos algébricos, mas ele tinha a fé que nenhum outro ser humano pode ter, ele contava, seus olhos arregalados medrontos, mas também estava ali querendo que todos soubessem que ele já viu o saci vindo pela rua assoviando e quando passava em frente a igreja, ele parava, quando se distancia pouco daquele local sagrado, novamente ouvia-se o assovio arrepiador do Saci.
Isso ainda era pouco perto do que ele vivenciara, quando saia da festa da igreja a meia noite e atravessando o passeio, ouvia os cascos dos cavalos batendo ao chão de terra vermelha, terra da qual nascera, terra na qual jaz ira um dia.

Thiαgo Ψ

quarta-feira, junho 08, 2011

● Auto Suficiente


Sou tão gélido quanto uma pedra de mármore ao inverno.
Meu amor próprio é o que me aquece
Minha sentinela é minha confiança
Confio tudo naquilo que sou,
mas nem sempre sou aquilo tudo que confio,
Não me sinto desprotegido, ando entre garras,
Me apego naquilo que sou
Sou meu próprio Deus, crio minhas verdades
Deito-me na minha fé
Meu discurso ego centrado,
Meus argumentos plausíveis, sempre na expectativa,
Sou como você me vê.
Ando sobre as pedras da desconfiança
Me equilibro sobre a linha da desilusão
Sobrevivo ao frio e ao fogo
forjado no ferro, ardente serenata.
Sou como você me vê.

Thiαgo Ψ