terça-feira, dezembro 27, 2011

• Desajustado Noturno


Chegou, aquele moço de longo topete e óculos escuros escondendo as olheiras de uma noite mal dormida, de um bicho noturno que perambula sob os raios do Sol, não estava acostumado, era um desajustado noturno, não sabia amanhecer.
Com mãos tremulas, bebericava aquela bebida, com mãos tremulas tragava o seu cigarro, a fumaça dançava no ar, como uma bailarina desabrochando passos no imenso palco. Estava ali parado, só queria colocar a cabeça em ordem, a última noite foi tão amedrontadora, foi tão complexa.
Repousara o envelope que trazia em suas mãos, encarava-o, fitava-o como quem temia, estremecia e até mesmo empalidecia, suava frio como quem estava em sauna.
Era chato estar ali, inútil pensamento aquele de querer se afastar, não podia, na verdade poderia, mas jamais quis, tinha prazer em sofrer, tinha prazer em cair numa noite cheia de pecados e malicias e andar, entregar, beber da cicuta.
Se matar, e no outro dia amanhecer vivo, ou nem amanhecer, esperar pelo relógio despertar de noite, almoçar enquanto jantam, tomar seu café quando estão embebedados de sono, sair e despertar, enquanto outros estão recolhidos em suas tabas.
Abriu com ferocidade o envelope branco, retirou de dentro aquilo que parecia um exame, olhos correram e num suspiro cortado quase desfaleceu, soro positivo.
Aquele garoto, que terminou seu café e afogou se cigarro dentro do copo, cortando o dobrado da fumaça que ali pairava, na penumbra ele sentiu, pressentiu e viu. Levantou-se jogou o dinheiro com direito a caixinha para o garçom, apenas estalou os dedos, girou nos calcanhares e saiu, seus sapatos Salvatore deixavam no ar o barulho de quem seguro de si sabia o que queria e que estava pronto a enfrentar a vida.


Ps: Graças a Caroline Pereira, voltei a postar e espero continuar, um beijo!

Thiαgo Ψ

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