quinta-feira, julho 28, 2011

• Folhas Secas

- A certeza não era certeza, assim como o sonho não era sonho -

Estava deitado, assim como qualquer outro dia de outono, edredom até as orelhas.
Não sabia se algum dia eu iria levantar dali, ultimamente tenho tido tanta vontade de deitar e de ficar descansando por tantas horas, não sei o que me acometia.
Levantei, capotei-me ao máximo, luvas, cachecol, blusão, tudo! Eu iria por ali, iria pela rua, subiria o morro, desceria a ladeira, não queria chegar a lugar algum. Tinha combinado com minha amiga de encontra – lá, mas não sei, não queria ir. Tomei o rumo da sua casa, por entre colinas, vales, lugares negros, lugares claros, o Sol coitado, tão vergonhoso por trás das montanhas.
O vento batia contra minha pele, ressecando meus lábios, era bom. O mesmo que batia contra minha face, rebatia contra as folhas das árvores, que majestosamente caíam ao chão, num barulho seco e rolavam por entre o asfalto. As lojas estavam fechadas, era incrível, não era natal, muito menos ação de graças. Mas continuei a caminhar ninguém habitava as ruas, as construções, tudo tão gelidamente seco.
A figura encapuzada aproximou-se, apesar de tê-la visto ao longe, não mudei meu rumo, eu sabia que ela iria passar por mim e algo aconteceria, não sei se seria bom, mas ah que se foda! Não mudo meu rumo e ponto!
Aquela figura, preta e encapuzada veio na minha direção, um frio me abatia, pensei ter entrado no pesadelo, mas não, era realidade. Eu acho.
Ela parou na minha frente, era serena... Não sabia quem era, tinha os olhos vendados, vestia a capa preta. Foi tão solicita e gentil que encantei-me. Ela abriu sua capa e vi tudo que havia acontecido na minha vida, vi tudo o que tinha sido feito, o sentimento de que valeu a pena atinou sobre mim. Me estendeu a mão, seca como se nunca se alimentasse, mas em vista de toda sua gentileza peguei e caminhamos em direção a ponto algum.
Naquele quarto em que estava, apenas remexi levemente e um suspiro entreaberto saiu de meus pulmões. Descansava tranquilamente em paz.


Thiαgo Ψ

sábado, julho 23, 2011

• Narciso.

-Os olhos enxergam apenas aquilo que querem-


O espelho refletia. Refletia a verdade? ou apenas refletia o que eu gostaria de ver?
Não fazia a mínima ideia do que significaria de verdade o espelho, tão normal quanto qualquer pedaço de vidro que possa ter reflexo, mas é mesmo intrigante, profundamente avassalador.
Pensar que por trás de um pedaço de vidro espelhado possa haver outra existência. Já que quando usa-se o espelhamento para impedir que vejamos o outro lado.
Muito curioso, como surgiu?
O bom é pensar que naquele espelho, se houver outra dimensão, por trás daquele vidro espelhado, todos já te viram: Feio, arrumado, nu, de cabelo molhado, seco, gordo.. Inúmeros modos de uma pessoa estar!
E os seus defeitos da pele? todos que por trás daquele vidro espelhado estão, já viram seus piores defeito, ainda mais quando você acorda sem a maquiagem, ou pior, quando você esquece e dorme de maquiagem e acorda aquele monstro (rs).
Apesar de que todos devem estar impressionados com tamanha beleza por trás daquele vidro, já que muitas vezes passo horas e horas olhando, encontrando cada defeito, valorizando cada traço.
-Bom saber! Jamais voltarei a olhar no espelho sem estar arrumado!
O Que os seres da dimensão espelhada irão pensar de mim? -NADA
Ora, eles devem ter a consciência de que eu nunca soube da existência dessa dimensão e perdoam cada gafe minha diante do maravilhoso reflexo meu.
-Bom pelo menos espero, né!
Que esqueçam e que perdoem todas as coisas ridículas que já fizemos frente ao espelho, nós não temos culpa. Quando sozinhos, somos capazes de quaisquer eventos.
-Um beijo pra dimensão espelhada!


Thiαgo Ψ

quinta-feira, julho 21, 2011

• Batom Espalhado

- ♪ The Girls Just Want To Have Fun -


Os cabelos molhados enrolados na toalha, o corpo coberto pelo hobby. Estava ali sentada sob o sofá daquela sala imensa, esperando alguém.. alguma coisa. O celular toca e você vê aquele maravilhoso torpedo chegando, sua amiga.
Quer sair, sábado a noite, os gatos estão a solta, todos querem apenas se divertir, logo aquele roupão é arremessado sobre a cama, os cabelos soltos num movimento centrifugo. O rosto ganha a deslumbrante cor da maquiagem, os cabelos as mais belas ondas já feitas e o vestido mais brilhante de biscate que estava no guarda-roupa foi vestido. Ouvi quando o motor do carro desligou e a buzina cortou o som daquele silêncio, apenas pausado pelas coisas que caiam ao chão naquela pressa de arrumação.
O salto agulha tintilava ao bater no assoalho de taco, mas correndo mesmo assim, pela sala a mão passou ligeira pela bolsa pendurada naquela montoeira. Cheguei o mais rápido que pude ao portão, o som no carro estava alto, a música dizia algo como -As garotas só querem se divertir- não entendi muito bem, pois a voz de quem cantava estava estridente demais, porém aquela energia me contaminou, entrei no carro, minha amiga estava perfeitamente uma Deusa.
Andamos por toda a cidade, as luzes piscando, as biscates batendo seu ponto, e a gente ali, dois seres de almas perdidas, jaz indo por entre ruas e avenidas. O letreiro brilhava, senti profundamente que aquele seria o nosso lugar -The Queen-
- Veja só, até o letreiro combina com a gente! disse minha amiga, em meio ao recolocar dos sapatos vermelhos em seus pés.
Entramos, aquela energia da penumbra foi contaminando todo nosso espírito, aquilo tudo era muito bom, estar ali, ouvindo aquelas maravilhosas músicas, logo já pedi minha taça de Martíni, a noite prometia.
Beijamos, amassamos, chupamos, bebemos, tudo o que poderia imaginar foi feito ali, naquele local, na sua meia luz. De volta ao carro, aquele espírito batia fortemente contra nossa parede material, ele queria transpor, transpassar qualquer matéria, estávamos exaltadas e excitadas.
Paramos o carro em qualquer esquina, não importava mais, já que passava da hora das pessoas decentes estarem em casa descansando. Não nos importamos. Nos pegamos ali mesmo, já sem batom, deixado na boca de quase todos(as) daquela balada. Beijamos ardentemente, vi aquela que considerava minha irmã como um ser sexual totalmente cheio de energia, capaz de me dar prazer como ninguém. Acabamos por chegar na minha casa, a roupa foi ficando pelo caminho, o vestido já rasgado, a biscate estava agora nua. Sofá, cama, mesa, chuveiro,cama, mesa, chuveiro e sofá. Não era amor, era paixão, era fogo que ardia ao se ver, o toque era como o encontro explosivo de grandes forças nucleares. Estava ali agora, rodeada por roxos na boca, nunca e mão. Deitada sobre a cama, descansávamos, nunca tínhamos encarado uma a outra tão sexualmente como aquela noite. Estaria marcado tal feito.
Em nossa pele, em nossa epiderme, em nossa alma. A manhã seguiu-se serenamente, o domingo estava ensolarado, mas não podíamos desfrutar da piscina, pois as marcas da noite anterior, agora eminentes.

Thiαgo Ψ

quarta-feira, julho 20, 2011

• Balanço


Era tarde, os ventos afagavam meus cabelos, eu estava ali sentada sobre aquele balanço, pra lá a pra cá, no sentindo contrário do vento, gostava de sentir o vento secando meus lábios, quase rachando-os, estava frio. O sol vergonhosamente estava escondido por de trás da colina, todos estavam na casa, não conseguia vê-los lucidamente, mas sei que ali estavam. É assim por vezes, não temos a lucidez de vê-los todas às vezes, mas sempre temos a certeza eminente.
Nunca duvidei de outras existências espirituais, e ali sentando sob aquele balanço, onde os ventos contrários despenteavam todo aquele trabalho que mamãe havia tido pela manhã, ao organizar fio por fio. Ali sentada, sempre sentada.
Tive ímpeto de ter visto um pequeno ser ao correr por trás do arbusto, abismei ao pensar que poderia ser alguma víbora venenosa ou alguma criatura de tamanha periculosidade, mas não, estava engana, pois orelhas pontudas foram avistadas assim que a criatura tornou a mexer.
- Um duende! Gritei aos quatro ventos
- Calada! Em meio a um grunhido, ouvi dizer.
-Senti um enorme arrepio por subir em minha espinha, mas já desesperada a ponto de correr. Ele fez um gesto silenciador.
E ali ficamos totalmente parados, admirados com a diferença, com a novidade, algo que antes nunca havia acontecido. Em minha cabeça pairava a grande dúvida. Pude logo perceber que em seus lábios, verdes e sua pele que lembrava os anfíbios, que haveria de existir no mundo, não apenas o mundo
, mas sim o mundo.


Thiαgo Ψ