- A certeza não era certeza, assim como o sonho não era sonho -
Estava deitado, assim como qualquer outro dia de outono, edredom até as orelhas.
Não sabia se algum dia eu iria levantar dali, ultimamente tenho tido tanta vontade de deitar e de ficar descansando por tantas horas, não sei o que me acometia.
Levantei, capotei-me ao máximo, luvas, cachecol, blusão, tudo! Eu iria por ali, iria pela rua, subiria o morro, desceria a ladeira, não queria chegar a lugar algum. Tinha combinado com minha amiga de encontra – lá, mas não sei, não queria ir. Tomei o rumo da sua casa, por entre colinas, vales, lugares negros, lugares claros, o Sol coitado, tão vergonhoso por trás das montanhas.
O vento batia contra minha pele, ressecando meus lábios, era bom. O mesmo que batia contra minha face, rebatia contra as folhas das árvores, que majestosamente caíam ao chão, num barulho seco e rolavam por entre o asfalto. As lojas estavam fechadas, era incrível, não era natal, muito menos ação de graças. Mas continuei a caminhar ninguém habitava as ruas, as construções, tudo tão gelidamente seco.
A figura encapuzada aproximou-se, apesar de tê-la visto ao longe, não mudei meu rumo, eu sabia que ela iria passar por mim e algo aconteceria, não sei se seria bom, mas ah que se foda! Não mudo meu rumo e ponto!
Aquela figura, preta e encapuzada veio na minha direção, um frio me abatia, pensei ter entrado no pesadelo, mas não, era realidade. Eu acho.
Ela parou na minha frente, era serena... Não sabia quem era, tinha os olhos vendados, vestia a capa preta. Foi tão solicita e gentil que encantei-me. Ela abriu sua capa e vi tudo que havia acontecido na minha vida, vi tudo o que tinha sido feito, o sentimento de que valeu a pena atinou sobre mim. Me estendeu a mão, seca como se nunca se alimentasse, mas em vista de toda sua gentileza peguei e caminhamos em direção a ponto algum.
Naquele quarto em que estava, apenas remexi levemente e um suspiro entreaberto saiu de meus pulmões. Descansava tranquilamente em paz.
Thiαgo Ψ